Organização envia relatório ao Comitê de Direitos Humanos da Onu e pede mais segurança e liberdade a cristãos líbios
Os cristãos na Líbia, um país atolado em uma guerra civil por 9 anos, estão sob pressão “extrema”, de acordo com as pesquisas da Portas Abertas, que compõem a Lista Mundial da Perseguição 2020. Na Lista, o país configura no 4º lugar de 50 países que mais perseguem cristãos no mundo.
A organização pediu ao Comitê de Direitos Humanos da ONU para incluir a liberdade religiosa em sua revisão programada para outubro, e que incluísseo histórico de direitos civis e políticos da Líbia.
O país do norte da África está em conflito desde a queda de seu líder vitalício Muammar Gaddafi, em 2011. Sua queda criou um vácuo de poder que foi preenchido rapidamente por diferentes facções políticas e militares que lutavam pelo controle.
Tem havido sérias preocupações sobre os abusos dos direitos humanos por todas as partes no conflito e, em junho de 2020, o Conselho de Direitos Humanos da ONU estabeleceu uma missão de investigação ao país. “É um alerta para os senhores da guerra e grupos armados de que eles podem ser responsabilizados por crimes graves cometidos por suas bases”, disse o especialista em assuntos do Oriente Médio e Norte da África da Portas Abertas.
Civis, e especialmente grupos minoritários, como cristãos, foram pegos na mira do conflito. “A ausência de um único governo central para impor a lei e a ordem no país tornou a situação sobre os cristãos precária. O nível de violência contra os cristãos na Líbia é agora classificado como extremo”, afirma o relatório da Portas Abertas.
Exemplo desta violência extrema aconteceu com o jovem Romany Adly Ayoub, de 27 anos. Em janeiro, sua família repentinamente perdeu contato com ele. Romany, um cristão egípcio partiu para a Líbia em 2014, onde abriu uma loja de roupas para sustentar sua família no Egito. De acordo com uma fonte local em contato com a família, seus parentes alertaram as autoridades e, em seguida, recebeu a notícia de que Romany havia sido sequestrado e morto, supostamente pelo grupo militante islâmico Ansar al-Sharia, que tentou forçá-lo a renunciar à sua fé cristã.
‘Todos os líbios são presumivelmente muçulmanos’
Os cristãos ex-muçulmanos no país também enfrentam pressão. “Nossas fontes confirmam que eles são frequentemente presos e detidos sob a acusação de blasfêmia com base no compartilhamento de materiais cristãos online”, alerta a Portas Abertas no relatório que submeteu conjuntamente ao Comitê de Direitos Humanos da ONU.
“Eles enfrentam pressão da polícia e de seus familiares para voltar ao islã por meio do uso de coerção física e psicológica. Presume-se que todos os líbios sejam muçulmanos, portanto, qualquer pessoa que deixe o islã enfrenta uma pressão significativa e é vulnerável à violência e ataques da família e da comunidade, bem como do Estado”, afirma o relatório.
“Em sua análise anterior, o Comitê (de Direitos Humanos) não incluiu nenhuma questão relacionada à liberdade religiosa para a Líbia”, disse um porta-voz da Portas Abertas. “Esperamos que desta vez a liberdade religiosa seja considerada uma questão preocupante e que, como resultado, a pressão sobre a Líbia se traduza em um impacto positivo sobre os cristãos no país”, conclui o especialista da Portas Abertas.